Probióticos – benefícios clínicos

Nutricionista Anna Christina Castilho
Nutricionista Clínica do IMeN – Instituto de Metabolismo e Nutrição
Especialista em Nutrição Clínica

Probióticos e seus benefícios:

Os probióticos podem ser componentes de alimentos industrializados presentes no mercado como leites fermentados ou podem ser encontrados na forma de pó ou cápsulas (7).
Como benefício para a saúde, desempenham papel na redução do risco de várias doenças intestinais, cardiovasculares, câncer, obesidade e diabetes tipo 2; aumentando o número de bifidobactérias no cólon e fortalecendo o sistema imune por exemplo. Dados científicos recentes têm ressaltado a contribuição da flora intestinal para a manutenção da saúde humana. Dentre os benefícios apontados, citam-se o antagonismo aos agentes patogênicos, o efeito de barreira microbiana e a modulação das funções imunes (6,31,36).
São consideradas cepas probióticas: Lactobacilos acidófilos MM53, casei Shirota, lactis B1, plantarum 299 V; LC1; rhamnosus GG; reuteri MM53; Sacaromices boulardi.
Dentre os efeitos fisiológicos exercidos pelos probióticos citam-se:
1. Competição bacteriana e inibição de bactérias intestinais indesejáveis por produção de substâncias bactericidas (lactobacilos) inibindo, por exemplo, Escherichia coli e Salmonella; ou por adesão à mucosa e multiplicação, competindo e inibindo a fixação de patogênicos.
2. Ativação da imunidade humoral e celular, pois parecem aumentar a atividade fagocitária, a síntese de imunoglobulinas (IgA) e a ativação dos linfócitos T e B.
3. Ação antiinflamatória e reguladora do SI por meio de redução de citoquinas, redução da reação de hipersensibilidade e por aumento da atividade fagocitária.
4. Ação na barreira intestinal
5. Aumento da digestibilidade da lactose por aumento da enzima beta galactosidase que facilita a ação da lactose.
Por ocasião do nascimento, a microflora intestinal, ou seja, a coleção de bactérias que reside normalmente no intestino do ser humano, é estéril. Entretanto, sua colonização bacteriana começa a se formar durante o parto e, em breve, outros microorganismos serão introduzidos juntamente com os primeiros alimentos, adquirindo suas principais características em torno dos dois anos de idade e a partir daí, acompanha o homem pelo resto de sua vida (9). Em condições normais, a microflora intestinal materna funcionará como a principal fonte de bactérias que colonizarão efetivamente o trato gastrintestinal do recém-nascido (5).
A alimentação exclusiva com leite materno é, reconhecidamente, a melhor forma de proteger o recém-nascido das enfermidades infecciosas; parte dessa proteção, provavelmente, se deve à influência que o leite materno tem sobre a composição da microbiota intestinal do recém-nascido (4,38). Os lactentes alimentados com leite materno têm flora fecal diferente dos que são alimentados com fórmulas lácteas. Os primeiros têm predomínio de bifidobactérias e lactobacilos, e os alimentados com fórmulas apresentam mais coliformes e bacteróides (36).
A implantação intestinal das diferentes cepas bacterianas ocorre de tal forma que ela é regulada pelo meio intestinal, que se altera à medida que, sucessivamente, se estabelecem novos grupos bacterianos (9).
Nos últimos anos, estudos sobre probióticos se expandiram significativamente, cada uma apresentando uma variedade de benefícios. As listas de características funcionais e de benefícios são comuns a diversos probióticos (20), porém as bactérias produtoras de ácido láctico são os probióticos melhor estudados, particularmente Lactobacillus, Bifidobacterium e Streptococus (36).
As bactérias ácido lático
Morfologicamente, são divididas em coccus e bacilos. De acordo com as condições de crescimento, são divididas em bactérias anaeróbica facultativa, que crescem na ausência ou presença de oxigênio (Lactobacillus, Streptococcus) e bactéria estritamente anaeróbica (Bifidobacterium). Estas bactérias são também classificadas de acordo com o tipo de fermentação do ácido lático e são distribuídas na natureza em grande quantidade, mas nem todas sobrevivem no intestino humano. Para atingir e sobreviver no intestino devem ser resistentes ao ácido gástrico, ao suco biliar, e além disso, devem ter afinidade com o trato gastrointestinal.

Fonte:www.yakult.com.br
As bactérias ácido láctico utilizadas em alimentos, tais como iogurtes, têm funções benéficas tais como: função de bactéria viva, função de metabólitos, função de constituinte celular, adsorção de substâncias maléficas, prover sabor e gosto, além de promover a preservação (33).

O que são os lactobacilos?

Lactobacillus casei Shirota:

São microorganismos utilizados nos produtos lácteos fermentados, com propriedades terapêuticas, e cuidadosamente investigados. Exige-se que tenham não somente efeitos bioquímicos e biológicos, mas também efeitos fisiológicos e terapêuticos sobre os pacientes. Assim é desejável que microorganismos sejam capazes de passar pelo trato gastrointestinal em estado viável, possuir habilidade em se multiplicar no trato gastrointestinal, produzir ácidos orgânicos e outros componentes biologicamente ativos e, com isso, controlar o ambiente microbiano. Qualidades tais como especificidade com o hospedeiro, compatibilidade com o mesmo e interações ecológicas com outras espécies dentro da microflora intestinal, são importantes e devem ser consideradas. A aderência às células do epitélio intestinal é um fator importante para sua atividade. Ela é mediada por numerosos polímeros adesivos, sobre a superfície da célula, que são proteínas, polissacarídeos ou componentes associados a parede celular, ácidos lipóicos, que possuem uma região hidrofílica e outra hidrofóbica, os quais serão ajustados em células receptoras específicas no intestino (41).

O que são Streptococcus?

Streptococcus faecalis:

São também bactérias ácido-lácticas, homofermentativas, que apresentam basicamente todas as características dos Lactobacilos e são habitantes característicos do trato intestinal do homem e outros mamíferos.
O Streptococcus faecalis é uma bactéria resistente a múltiplos medicamentos. A pesquisa in vitro inibiu a multiplicação de Cândida albicans. Por outro lado a ingestão oral do Streptococos em pessoas com flora intestinal saudável, não resultou na alteração da sua composição. Mas, ao se aplicar em pacientes diarréicos, juntamente com antibióticos, a melhora ocorreu mais rápido do que com a aplicação isolada destes antibióticos, além de apresentar a redução e até mesmo desaparecimento de sacaromicetáceos que haviam se proliferado de modo anormal. Há também relatos que esta bactéria é eficaz para melhorar os sintomas gastrointestinais que ocorrem com as alterações da flora intestinal provocada por ingestão de antibióticos no tratamento das variadas infecções.

Ambas as variedades de bactérias são do tipo anaeróbicas facultativas, capazes de se desenvolver no interior do trato intestinal humano (11). Por serem bactérias ácido resistentes, atravessam o sistema digestivo, sem sofrer ação bactericida dos ácidos presentes, chegando ao intestino, onde irão se fixar e colonizar. Sendo bactérias fermentativas, produzirão o ácido láctico como principal produto de fermentação, o qual irá acidificar o ambiente intestinal, exercendo efeito bactericida e bacteriostático. Dessa forma, as bactérias patogênicas presentes, sensíveis à diminuição do pH no intestino, serão eliminadas, prevalecendo as bactérias não patogênicas. Assim, o equilíbrio da flora intestinal será restaurado (41). Selecionou-se cepas úteis entre os Lactobacilos que são as bactérias mais predominantes no intestino saudável, e entre os Streptococos que são os mais dominantes dentre as bactérias anaeróbicas facultativas. No caso de Lactobacillus casei, se utilizou cepas que apresentaram uma alta resistência ao meio ácido, ao suco gástrico e a bile, e no caso do Streptococcus faecalis, a sua reprodução é rápida e a sua aderência nas mucosas intestinais é excelente (11).

Fonte:www.yakult.com.br

Em um estudo quali-quantitativo, envolvendo 26 marcas de iogurtes, as cepas de Lactobacillus isoladas, consideradas como probióticos, estavam presentes em no mínimo 10 e 5 UFC/g dos produtos antes de terminar o período de validade dos mesmos (16).
Segundo Penna e col. (30), os microorganismos somente influem no ecossistema onde eles se encontram quando suas populações são superiores a 10 e 7 UFC/g do conteúdo, porém no caso específico da flora intestinal de crianças recém-nascidas, tais valores podem ser menores. Entretanto, até o momento, não foram encontrados na literatura os valores limítrofes.
O Lactobacillus casei Shirota é uma das bactérias probióticas mais usadas na produção de leite fermentado e de bebidas lácteas ácidas. A recuperação de tais bactérias a partir das fezes foi da ordem de 10 e 7 bactérias por grama, indicando que sobrevivem e se multiplicam no trato gastrintestinal após a ingestão do leite fermentado (42).
Pelos motivos acima expostos a Yakult desenvolveu um medicamento em que combinou as duas variedades (Lactobacillus casei Shirota e Streptococcus faecaelis) visando um efeito benéfico para o ambiente intestinal no seu sentido mais amplo, desde o intestino delgado até o reto, com o objetivo de promover reequilíbrio da flora intestinal e melhorar os diversos sintomas patológicos associados.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

1) ADA (AMERICAN DIETETIC ASSOCIATION). Position of the American
Dietetic Association: phytochemicals and functional foods. J.Am.Diet.
Assoc. V95, p 493-496, 1995.

2) ADA (AMERICAN DIETETIC ASSOCIATION). Functional Foods – Position of
ADA. J.Am.Diet.Assoc.v99, p1278-1285, 1999.

3) Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução nº 18, de 30 de abril de
1999 (republicada em 03/12/1999) e Resolução nº 19, de 30 de abril de
1999 (republicada em 10/12/1999).

4) BALMER S.E, WHARTON B.A. Diet and faecal flora in the newborn:
breastmilk and infant formula. Arch Dis Child 1989; 64:1672-7.

5) BETTELHEIN K.A, LENNOX S.M. The acquisition of Escherichia coli by new
born babies Infection 1976; 4:174-9.

6) BRADY L.J, GALLAHER D.D, BUSTA F.F. The role of probiotic cultures in the
prevention of colon cancer. J Nutr 2000;130 Suppl. 2S:410S-4S.

7) BORGES VC. Alimentos Funcionais: Prebióticos, Probióticos, Fitoquímicos e
Simbióticos: 1495-1501. In: WAITZBERG DL. Nutrição oral Enteral e
parenteral na prática clínica. Ed Atheneu, 2001.

8) COSTA, N.M.B. e BORÉM, A. Biotecnologia em Nutrição – saiba como o DNA
pode enriquecer os alimentos. São Paulo: ed Nobel, 2003.

9) DAI D, WALKER W.A. Protective nutrients and bacterial colonization in the
Immature human gut. Adv Pediatr ; 46:353-82, 1999.
10) FOOKS L.J, GIBSON G.R. Probiotics as modulatorsd of the gut flora. British
Journal of Nutrition, 88, Suppl.1, S39-S49, 2002

11) FUJIMURA H. et al, Ensaios toxicológicos sobre o preparado de
Lactobacilos LP-201. Departamento de Farmacologia, Escola de
Medicina da Universidade de Gifu, Japan, pg 6/37.

12) FULLER R. Probiotics in man and animals. J. Appl. Bacteriol, 1989, 66, 365-
378.

13) GONZALES et al. Inibition of enterophthogens by lactobacilli strains used in
fermented milk. Journal of Food Protection. V 56, nº 9, p 773-776, 1993.

14) GUTIERREZ, L.E. Comunicação pessoal. Prof Dr. Da escola Superior da
Agricultura “Luiz de Queiroz”- Universidade de são Paulo, Piracicaba,
SP.

15) HASLER, C.M. Functional Foods: their role in disease prevention and health
promotion. Food Technology, v52, n11, p 63-70, 1998.

16) HOVE H, NORGAARD H, MOERTENSEN P.B. Lactic acid bacteria and the
human gastrointestinal tract. Eur J Clin Nutr 1999; 53:339-50.

17) HUTCHESON D. Research lists characteristics of probiotics. Feedstuffs,
1987, 14:8-10.

18) KANAMORI, Y. et al. Combination Therapy with Bifidobacterium breve,
Lactobacillus casei and Galactooligosaccharides Dramatically Improved
the Intestinal Function in a Girl with Short Bowel Síndrome. Digestive
Diseases and Sciences,V 46, nº 9, p 2010-2016, 2001.

19) KHEDKAR, C.D, MANTRI J.M, GARGER, R.D, KULKARNI, S.A, KHEDKAR,
G.D. Hypocholesterrolaemic effect of fermented milks: a review. Cultured
Dairy Products Journal, V 28, nº3, p 14, 16-18, 1993.

20) KLAENHAMMER T.R. Probiotic bacteria: today and tomorrow. J Nutr
2000;130 Suppl. 2S:415S-6S.

21) LAIHO, K. et al. Probiotics: on going research on atopic individuals. British
Journal of Nutrition, 2002, (88), Suppl.1, S19-S27.

22) LAJOLO, F.M. Alimentos Funcionais: uma visão geral. In: DE ANGELIS,
R.C. Importância de alimentos vegetais na proteção da saúde: fisiologia
de nutrição protetora e preventiva de enfermidades degenerativas, São
Paulo: ed Atheneu, 2001.

23) MATSUZAKI T, CHIN J. Modulating immune responses with probiotic
bacteria. Immunol Cell Biol 2000; 78:67-73.

24) MITSUOKA, T. Microbes in the intestine – Our lifelong partners, published by
Yakult Honsha Co, Ltd, Tokyo, Japan, 1989, pg 28.

25) NAIDU A.S, BIDLACK W.R, CLEMENS R.A. Probiotic spectra of lactic acid
bacteria (LAB). Crit Rev Food Sci Nutr 1999; 39:113-26.

26) NAKAJIMA, H; SUZUKI, Y.; KAIZU; HIROTA, T. Cholesterol lowering activity
of ropy fermented milk. Journal of Food Science, V 57, nº 6, p 1327-1329,
1992.

27) NAKAMURA, Y. et al. Antihypertensive effect of sour milk and peptides
isolated from it that are innibitors to angiotensin L-converting enzyme.
Journal of Dairy Science, V 78, nº 6, p1253 – 1257, 1995.

28) OHASHI Y. et al. Habital Intake of Lactic Acid Bacteria and Risk Reduction of
Bladder Cancer. Urol Int, 2002; 88; 273-280.

29) PATEL J.R, DAVE J.M, DAVE R.I, SANNABHADTI, S.S.Effect of feeding
milk fermented with mixed culture of human strains of lactobacilli on
faecal lactobaccili and coliform counts in human test subjects. Indian
Journal of Dairy Science,V 45, nº 7, p 379-382, 1992.

30) PENNA F.J, FILHO L.A.P, CALÇADO A.C, JUNIOR H.R, NICOLI J.R. Bases
experimentais e clínicas atuais para o emprego dos probióticos. J Pediatr
(RJ) 2000; Suppl. 2:209S-17S.

31) PHUAPRADIT P, VARAVITHYA W, VATHANOPHAS K, SANGCHAI R,
PODHIPAK A, SUTHUTYORAVUT U, et al. Reduction of rotavirus
Infection in children receiving bifidobacteria-supplemented formula. J
Med Assoc Thai 1999; 82 Suppl. 1S:43S-8S.

32) PISTON, R.L; GILLILAND, S.E. Influence of frozen and subsequent
refrigerated storage in milk on ability of Lactobacillus acidophilus to
assimilate cholesterol. Cultured Dairy Products Journal, V4, nº 29, p 9, 11-
14, 16, 29, 1994.

33) Revista Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (SBNP), nº 36,
Nov–Dez, 2001.

34) ROBERFROID, MD. The bifidogenics nature of chicory inulin and its
hydrolysis products. J. Nutr, 1988, 128:1-9.

35) ROBINSOS R.K. The therapeutic effects of various cultures, Therapeutic
properties of fermented milks. London: Elsevier, 1991. Cap 3, pg 45 –
64.

36) ROLFE R.D. The role of probiotic cultures in the control of gastrointestinal
health. J Nutr 2000;130 Suppl. 2S:396S-402S.

37) SAAVEDRA J. Probiotics and infectious diarrhea. Am J Gastroenterol 2000;
95 Suppl. 1S:16S-8S.

38) SIMHON A, DOUGLAS J.R, DRASAR B.S, SOOTHILL J.F. Effect of feeding
on infants’ faecal flora. Arch Dis Child 1982; 57:54-8.

39) VON WRIGHT A, SALMINEN S. Probiotics: established effects and open
questions. Eur J Gastroenterol Hepatol 1999; 11:1195-8.

40) WEBER G. Protecting Your Health With PROBIOTICS The “friendly”
bacteria. Green Bay, Wi: Impakt, 2001.

41) YOKOKURA, T. et al. Lactobacillus casei strain Shirota – Intestinal Flora
Human Health. Edited by Yakult Central Institute for Microbiological
Research, Tokyo, Japan, 1999, pg 8, 107, 113-116, 137, 140, 233.

42) YUKI N, WATANABE K, MIKE A, TAGAMI Y, TANAKA R, OHWAKI M, et al.
Survival of a probiotic, Lactobacillus casei strain Shirota, in the
gastrointestinal tract: selective isolation from faeces and identification
using monoclonal antibodies. Int J Food Microbiol 1999; 48:51-7.

Sites pesquisados:

www.yakult.com.br

www.waterandhealth.org