Obesidade abdominal e síndrome metabólica

Dr.  Ricardo Pavanello

   O acúmulo predominante de células gordurosas na região abdominal leva a um aumento de risco de doença cardiovascular e morte prematura. As principais alterações metabólicas associadas com obesidade abdominal são as dislipidemias e a resistência à insulina. Nos últimos anos, os estudos clínicos deixaram claro que o tipo de distribuição de gordura corporal pode ajudar a estratificar o risco cardiovascular.
  Na década de 40 o risco era mais associado com a obesidade "andróide" (obesidade abdominal ou corpo em "forma de maçã") do que com a obesidade "ginóide" (obesidade corporal mais baixa ou corpo "em forma de pêra"). Atualmente, sabe-se que há uma relação entre o risco cardiovascular e o volume de gordura intra-abdominal (dentro da cavidade abdominal, ao redor dos órgãos). Podemos quantificá-la através de exames sofisticados como a  ressonância magnética ou de uma maneira bem simples: a  medida da circunferência da cintura, que não deve ultrapassar 102cm nos homens e 88 cm nas mulheres, conforme recomendação da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
A Síndrome Metabólica (SM) é um conjunto de fatores de risco que associados elevam as chances de desenvolver doenças cardíacas, derrames e diabetes além de  aumentar  a mortalidade geral em cerca de 1,5 vezes e a cardiovascular em cerca de 2,5 vezes. Nos Estados Unidos estima-se que 24% da população adulta seja portadora da SM e que aproximadamente 50 a 60% dos americanos com mais de cinqüenta anos também fazem parte dessa preocupante população de alto risco cardiovascular.
No Brasil, o Estudo do Rio de Janeiro, iniciado em 1983, avaliou a pressão arterial em mais de 7 mil jovens e seus familiares, analisando seus fatores de risco cardiovascular. Os resultados deste estudo mostraram uma relação direta entre a pressão arterial e o peso corporal dos jovens e seus familiares. Segundo dados do IBGE, houve uma evolução no perfil antropométrico-nutricional de toda a população brasileira, incluindo crianças e adolescentes entre 1974-1975 e 2002-2003.
Alguns fatores contribuem para o aparecimento da SM: os genéticos, o excesso de peso (especialmente na região abdominal) e a vida sedentária. Os fatores de risco são os seguintes: acúmulo de gordura abdominal; HDL  colesterol  inferior a  40mg/dl em homens e 50mg/dl  nas mulheres; níveis  de triglicerídeos maiores que 149mg/dl; pressão arterial maior que 134/84 mmHg e finalmente glicemia  elevada, 110mg/dl ou superior. Quando três ou mais fatores de risco estão presentes estamos diante da síndrome metabólica.

Segundo as pesquisas, um em cada cinco adultos nos Estados Unidos têm a SM, que ocorre com mais freqüência entre os africanos, hispânicos e asiáticos e aumenta com o envelhecimento e mais ainda se o paciente tem uma vida sedentária. A maioria não tem sintomas, entretanto, correm o  risco de desenvolver doenças graves, como o infarto do miocárdio  e o diabetes.
Está comprovado que exercício físico e dieta são considerados terapia de primeira escolha levando a redução expressiva da circunferência abdominal e da gordura visceral, podendo ainda melhorar  a sensibilidade à insulina, reduzindo os níveis de glicose. Simultaneamente há  redução  da pressão arterial e nos níveis de triglicérides, bem como aumento do HDL-colesterol. Há recomendações em relação ao plano alimentar como reduzir a ingestão de calorias sob a forma de gorduras e mudar o consumo de gorduras saturadas para gorduras insaturadas assim como reduzir o consumo de gorduras trans (hidrogenada) e aumentar a ingestão de frutas, hortaliças, leguminosas e cereais integrais, diminuindo a ingestão de açúcar e sal, consumidos habitualmente em excesso.
A boa notícia é que não só os pesquisadores e médicos estão atentos à presença dos fatores de risco, mas também as nutricionistas e os profissionais do esporte, facilitando a identificação do problema, podendo-se evitar o aparecimento de futuras doenças cardíacas e suas complicações.

 * Ricardo Pavanello é cardiologista do HCor – Hospital do Coração