Importância da circunferência abdominal na avaliação nutricional de cardiopatas
Nutricionista Isabella Pimentel
A obesidade indiscutivelmente é um marcador de risco importante para doenças cardiovasculares. Estima- se que indivíduos com 20% a mais do seu peso ideal apresentem 3 vezes mais chance de sofrerem de infarto agudo do miocárdio do que pessoas que apresentem peso corporal dentro da faixa de normalidade.
Contudo, atualmente a distribuição de gordura, especialmente a localização abdominal, tem sido sugerida como um preditor de risco para metabólicas doenças cardiovasculares mais importante do que a própria obesidade global que é em geral avaliada pelo Índice de Massa Corporal (IMC).
A obesidade abdominal ou central (não subcutânea) está estreitamente associada à comorbidades metabólicas como resistência à insulina, diabetes, hipertrigliceridemia, redução da fração HDL- c e hipertensão arterial sistêmica, situações as quais aumentam o risco cardiovascular.
Com advento da tomografia computadorizada foi possível avaliação minuciosa do tecido adiposo na região abdominal. Mesmo em indivíduos considerados eutróficos de acordo com o Índice de Massa Corporal, o acúmulo excessivo de tecido adiposo visceral foi associado à resistência à insulina e intolerância à glicose que estão associados ao aumento no risco de diabetes tipo II (adquirida na vida adulta), hipertrigliceridemia e redução nos níveis da fração HDL-c. Outras evidências acumuladas mostram que a ocorrência dessas alterações - resistência à insulina e alterações lipídicas - está também associada a alterações em variáveis hemostáticas as quais contribuiriam para aumento do risco de eventos aterotrombóticos.
Infelizmente, a técnica de avaliação corporal por tomografia computadorizada é limitada pelo seu alto custo. Apenas centros de estudos realizam essa avaliação, sendo inviável para uso em saúde pública. Na prática, existe muito boa correlação com os dados da tomografia e o valor da circunferência abdominal para ambos os sexos. O procedimento é rápido, de baixo custo e grande utilidade diagnóstica e prognóstica, assegurando o sucesso da terapia.
A medida deve ser feita com fita métrica inelástica, preferencialmente após expiração. Considera-se a circunferência abdominal a distância média entre a última costela e o topo da crista ilíaca.
É importante lembrar que os valores coletados devem ser avaliados criticamente, pois a relação entre as variáveis antropométricas com o tecido adiposo visceral pode diferir entre grupos étnicos e pode ser afetado pela idade. Então, adultos mais velhos podem ter mais gordura visceral pela circunferência abdominal do que os adultos jovens.
Valores de referência:
Tem sido sugerido que um acúmulo de gordura visceral superior a 130cm2 está associado em ambos os sexos ao aumento das anormalidades metabólicas.
Abaixo estão os valores de referência:
Circunferência abdominal Risco aumentado Risco muito aumentado
Homens ³ 94 cm ³ 102 cm
Mulheres ³ 80 cm ³ 88 cm
III Diretrizes Brasileiras sobre Dislipidemias. Arq. Bras. Cardiol, 2001
Referências bibliográficas:
Reaven, GM, Laws, A, Insulin Resistance: The Metabolic Syndrome X, 1999
Lakka, HM, et al, Abdominal obesity is associated with increased risk of acute coronary events in men, Eur Heart J, 2002